COMO GERAR IMPACTO NA COMPLEXIDADE

O mundo com suas rápidas e intensas transformações já foi considerado VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) e BANI (Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível). De um jeito ou de outro, independentemente de como carimbamos a realidade, fato é que estamos diante de um contexto global, local e individual desafiador. A todo tempo somos chamados a exercer uma capacidade de trocarmos as lentes, trazermos novas respostas, descruzarmos os braços e nos lançarmos em caminhos novos.

Agora, mais premente do que nunca, está a tomada de consciência de que as mudanças que desejamos para o mundo pedem o engajamento de todos e de cada um de modo específico – e elas precisam começar antes, de dentro para fora. E, como fazer isso, a não ser juntos e integrados, colhendo parcerias, somando olhares e promovendo trocas? Precisamos, cada vez mais, acolher especificidades das pessoas e de seus territórios e aproximar as soluções possíveis das necessidades humanas. É aí que entra um novo jeito de fazer negócio, do qual quero contar um pouco a partir de minha experiência.

NEGÓCIOS 2,5 COMO ALTERNATIVA PARA ENGAJAR E REALIZAR

Desde que fundei a Bridge, em 2014, ficava me perguntando se a melhor configuração daquilo que eu almejava construir era mesmo uma empresa. Diante dos elementos que eu tinha em mãos à época, a resposta era sim. A Bridge, então, nasceu como componente do segundo setor, onde estão agrupados os negócios privados, tendo ao lado o governo (primeiro setor) e as instituições da sociedade civil (terceiro setor).

Com o passar dos anos, diante de cada novo desafio que nos puxava à realidade das relações e dos territórios, passamos a duvidar dessa resposta ou, no mínimo, a fazer novas perguntas. Nesse caminhar, fomos nos reconhecendo cada vez mais conectados ao chamado setor 2,5: organizações que querem dar uma contribuição socioambiental concreta, ainda que estejam atentas aos resultados financeiros como meio de sustentação e longevidade do propósito. Ou seja, organizações que consideram importante não perder de vista a geração de caixa, mas, sobretudo, a geração de impacto positivo na sociedade. 

A geração de impacto pode se dar de formas diversas e com focos distintos. Afinal, o que não faltam neste mundo BANI são desafios clamando por atenção e ação concreta. No caso da Bridge, nosso jeito de gerar impacto que contribua para um mundo melhor é sendo ponte para a atuação mais consciente das organizações junto aos seus diversos públicos. Assim, oferecemos nosso apoio ao fortalecimento dos processos de gestão social, promovemos conversas melhores e levamos conscientização ambiental às pessoas. Colocamos atenção especial nos territórios onde somos chamados a atuar, desejosos de dar contribuições concretas à melhoria das condições de vida das pessoas. Zelamos também pelas informações e dados que nos são concedidos, tanto no sentido da inteligência com que são tratados como do respeito pelo que nos é revelado em relações de confiança e o quanto tais leituras podem contribuir para mudanças estruturais. 

Empresas e sociedade têm experiência compartilhada de diferentes maneiras – ainda que nem sempre isso lhes pareça óbvio: por vezes é um produto ou serviço disponibilizado por um e utilizado por outro e, frequentemente, ambas ocupam territórios próximos e compartilham impactos socioambientais, negativos ou positivos. Essa interdependência se dá também na geração de trabalho e renda e na nutrição econômica promovida pelo pagamento de tributos e taxas e pelo incremento de toda uma cadeia de prestadores de serviço. 

Na concretização do impacto positivo que almejamos, enquanto negócio 2.5, vemos a relação empresa e sociedade não como um jogo onde uma parte precisa perder para que outra possa ganhar. Diferente disso, nossa consciência nos diz que existe oportunidade no compartilhamento da experiência e que, portanto, seremos socialmente melhor sucedidos se adotarmos uma postura organizacional inclusiva, equânime e respeitosa face a todos os públicos, e não apenas aos investidores. Apostamos nas organizações como propulsoras disso, favorecidas por seu natural poder que é assegurado pelo capital e, consequentemente, inegável capacidade de articulação. 

É importante dizer que a definição deste propósito de gerar impacto positivo, na Bridge, não nos exime de reconhecer e enfrentar relevantes desafios! A bem da verdade, empreender gerando impacto social positivo exige uma reinvenção permanente do fazer em meio a contextos em constantes transformações, sem perder de vista o desejo de apoiar a mudança que queremos ver no mundo e, ao mesmo tempo, cuidando de garantir a viabilidade do negócio. 

Equipe Bridge com a placa com o texto somos B

SUBINDO A RÉGUA COM A CERTIFICAÇÃO B

Anna de Souza Aranha, co-CEO no Quintessa, em artigo no LinkedIn, define o nosso contexto da seguinte maneira: “Estamos em um ponto de inflexão - de setor e de mundo. A realidade atual vem sendo invadida pelo pessimismo. Efeitos da emergência climática que culminaram em catástrofes, instabilidade política e econômica a nível global, receio dos efeitos da inteligência artificial no mercado de trabalho, agravamento de questões de saúde mental, polarização política, guerras, distanciamento do atingimento das metas estabelecidas para 2030”. 

Não está mesmo fácil ser otimista nesta turbulência - ou, quem sabe, a única saída seja pelo otimismo, abraçado à aceitação de nossos limites e impotências? Na tentativa de encontrar ajuda para aterrissar, convido novamente Viviane Mosé para a conversa: “O mundo é amplo, complexo, impossível. Então, não preciso me sentir fracassada se o meu projeto de mudar o mundo não aconteceu”. Esse conselho parece bastante útil para empreendedores que, como eu, colocam seu propósito em gerar impacto positivo: estejamos atentos a essa possibilidade, mas não nos deixemos paralisar, sob pena de nos sentirmos frustrados por demais a ponto de desistir.

De forma prática, o que fazer diante de tudo isso? Reconhecer-se a partir de um lugar diferenciado no mercado e dar as mãos a quem mais veja sentido nesta proposta de atuação. Aí reside o maior valor em ser parte do Movimento B: significa pertencer, olhar para sua própria realidade e reconhecer suas forças de impacto, assim como as oportunidades de ampliar o alcance. Ser parte do movimento B é organizar informações, prestar contas e engajar pessoas, movida por um novo jeito de ‘fazer negócio’. A certificação B é, enfim, mais do que uma marca ou um selo: é uma maneira de ver o mundo e de liderar a construção de soluções para os desafios do nosso tempo. 
Assim, entendo a jornada de certificação como um caminho exigente de melhoria contínua. Alcançar a certificação, com todas as exigências e princípios que ela abraça, é um passo, depois do qual vem a construção ou ressignificação das práticas do negócio, movida pelo sentimento de pertencer a algo maior, que nos religa ao propósito de transformação a partir do nosso micromundo, fortalecendo um ecossistema integrado de negócios que desejam ser melhores para o planeta. 

Mas, é bom que se diga, a certificação B – e qualquer outra - nunca é uma linha de chegada. Porque ser melhor para o mundo, num mundo frágil, ansioso, não-linear e incompreensível (BANI) como o nosso é, sem dúvidas, abraçar a utopia. Afinal, o objetivo que buscamos estará sempre mais à frente e em constante mutação. 

ESCRITO POR LILIANE LANA
DIRETORA FUNDADORA DA BRIDGE GESTÃO SOCIAL

Liliane Lana sorrindo, Diretora Fundadora da Bridge

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