Processos Circulares de Construção de Paz e a prática do ESG

Os “Processos Circulares de Construção de Paz” são abordagens que utilizam reuniões em círculo como parte de estratégias mais amplas para promover a paz, a reconciliação e a transformação de conflitos em comunidades, grupos ou sociedades. Eles são frequentemente usados em contextos em que há tensões, divisões ou conflitos, visando criar um espaço seguro para a comunicação e o entendimento mútuo. 

Responsável pela sistematização dos Processos Circulares e referência mundial em Justiça Restaurativa, no livro “Processos Circulares de Construção de Paz” a professora norte-americana Kay Pranis instrumentaliza a organização e condução dos círculos de diálogo, além de trazer exemplos reais da sua aplicabilidade.

Esse trabalho é fruto de sua experiência bem-sucedida em diferentes contextos sociais com o objetivo de auxiliar grupos na transformação de conflitos, tomada de decisões consensuais baseadas nas necessidades de todos os envolvidos e na promoção do reconhecimento e compreensão mútuos, favorecendo a emergência de um senso comunitário.

“Para fazer a ponte é preciso conhecer as duas margens daquele mesmo do rio”

Utilizamos muito essa frase desde a criação da Bridge por ele carregar um significado importante em relação à compreensão e à transformação de problemas em ações positivas para o bem-estar comum.

A reflexão sugere que, para encontrar soluções eficazes ou para estabelecer conexões significativas, é fundamental entender as diferentes perspectivas de uma situação ou problema – situação que, sendo parte do todo, afeta ambas as partes.

Para resolver um problema ou criar uma solução que funcione, é necessário entender em profundidade o contexto em que a situação ocorre. Isso significa considerar o máximo de variáveis, circunstâncias e perspectivas envolvidas.

Conhecer as “duas margens do rio” também se refere à empatia, ou seja, empenhar-se em acessar a perspectiva de outra pessoa para compreender seus sentimentos, pontos de vista e necessidades. Isso é essencial para construir relacionamentos saudáveis.

Neste contexto podemos refletir que o objetivo central dos círculos de paz não é simplesmente a construção de uma resolução.

A ideia é promover a comunicação e fortalecer o senso de comunidade. Vamos explorar abaixo como os círculos de paz podem influenciar a construção do senso comunitário:

• Diálogo Aberto: Os círculos de paz promovem um ambiente seguro e inclusivo onde os membros da comunidade podem se expressar abertamente, compartilhar seus pensamentos, sentimentos e preocupações, além de experiências. Isso cria um senso de confiança mútua e permite que as pessoas se sintam ouvidas e valorizadas.

• Fortalecimento de Vínculos Sociais: A participação regular em círculos de paz pode criar uma sensação de pertencimento e conexão entre os membros da comunidade. As pessoas que se encontram regularmente em um ambiente de apoio mútuo tendem a desenvolver relacionamentos mais fortes e duradouros.

• Construção de Confiança: À medida que os membros da comunidade participam de círculos de paz e experimentam a transformação de conflitos de maneira restaurativa, a confiança mútua na comunidade pode aumentar. Isso é essencial para a construção de um senso comunitário sólido.

• Sentido de Propósito Comum: Os círculos de paz podem ser usados para discutir questões e objetivos comuns. Isso ajuda a criar um senso de propósito compartilhado, à medida que os membros trabalham juntos para alcançar metas que beneficiam a comunidade como um todo.

Essas práticas podem contribuir para uma comunidade mais coesa e solidária, onde os membros se sentem valorizados e conectados uns aos outros.

“Nossos ancestrais se reuniam em roda à volta do fogo, com a família em torno da mesa e, agora, estamos reunindo as comunidades em círculo para resolver problemas.”

(Kay Pranis)

Além de ter o direito de falar, as pessoas também têm o direito de serem ouvidas

A metodologia para condução de processos circulares organizada por Kay Pranis é base para muitas práticas realizadas pela Bridge em ações de comunicação interna ou externa dos nossos clientes.

Por meio das rodas de diálogo é possível favorecer a plena expressão das emoções numa atmosfera de respeito genuíno, fruto da escuta qualificada e do protagonismo de todos os participantes.

É uma tomada de consciência de que todos nós estamos interligados e, portanto, a ação de cada um interfere no coletivo.

É uma bela oportunidade de transformar uma sociedade de exclusão em uma sociedade de pertença, pois cada voz é importante para a construção do todo.

Existem diversos tipos de círculos de construção de paz, cada um com suas próprias características e aplicações específicas.

A escolha do tipo de círculo a ser usado depende das necessidades e objetivos da situação em questão.

Abaixo listamos alguns tipos de círculos de construção de paz trazidas por Kay Pranis no livro “Processos Circulares de construção de paz”:

1. Círculos de Diálogo: Os círculos de diálogo são usados para promover a comunicação eficaz e o entendimento mútuo entre pessoas ou grupos com diferentes perspectivas ou conflitos. Eles são adequados para resolver mal-entendidos, melhorar a empatia e a escuta e, se possível, promover a reconciliação. Não necessariamente buscam consenso sobre o assunto.

2. Círculos de Sentenciamento: Esses círculos são aplicados em contextos de justiça criminal, reunindo pessoas que sofreram o dano com as pessoas que causaram o dano para juntas, elaborarem um plano de sentenciamento. Eles reúnem vítimas, infratores e membros da comunidade para discutir os impactos do conflito ou do crime, buscar reparação e encontrar soluções para evitar reincidência. Neste âmbito, a Justiça Restaurativa visa restaurar as relações e promover a responsabilidade.

3. Círculos de Apoio: Os círculos de apoio reúnem pessoas chave capazes de dar suporte a alguém que passa por dificuldade ou fase de transição na vida. Eles fornecem um espaço seguro para pessoas compartilharem suas experiências e emoções, promovendo a compreensão e o apoio mútuo.

4. Círculos de Construção do Senso Comunitário: Esses círculos são aplicados em comunidades para discutir questões comunitárias, tomar decisões coletivas e resolver conflitos locais. Eles podem ser usados para abordar temas como segurança, desenvolvimento comunitário e inclusão.

5. Círculos de Resolução de Conflitos: São usados para ajudar as partes de uma disputa a resolver suas diferenças, tomar decisões importantes e melhorar a comunicação entre os membros de um grupo, por exemplo uma família. Eles são úteis em situações de divórcio, questões de custódia, herança e outros tipos de conflitos.

6. Círculos de Celebração ou Reconhecimento: É a reunião de um grupo de pessoas para partilhar o senso de uma realização em grupo ou celebrar o reconhecimento de um indivíduo por uma realização alcançada.

E como a Bridge leva esta prática para as comunidades

Já trouxemos no nosso blog a reflexão de que o desafio das relações interpessoais é uma constante na vida de qualquer ser humano.

Somos seres que discutem devido às nossas diferenças. Mas, sim, é possível estabelecer uma comunicação que evite ter o conflito como ponto de partida, utilizando conexões em comum como fio condutor de um diálogo contínuo e positivo. 

Por meio dos Círculos Temáticos, metodologia Bridge criada com base nos tipos de círculos de paz mencionados acima, pretendemos abrir um espaço para troca de conhecimentos entre os moradores de uma comunidade, de modo que um ajude o outro a enfrentar os problemas do cotidiano do território: sejam eles ligados a saúde, relacionamentos, hábitos ou desafios do dia a dia que, por vezes, são silenciados por não saberem como enfrentar. 

Entendemos também que empresas que investem em ações para aprimorar o relacionamento entre os moradores das comunidades onde geram impacto podem também lançar mão destas iniciativas de fortalecimento do capital social.

Construindo um legado positivo para os territórios, as empresas estarão praticando o ESG em sua essência.

Clique aqui para relembrar o que já falamos sobre o cuidado das Relações Institucionais para transformar o assoreamento das relações entre empresas e territórios onde atuam.

ASSISTA NOSSA SÉRIE SOBRE CÍRCULOS TEMÁTICOS:

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