Materialidade, tema material, matriz de materialidade , afinal, o que são todos esses termos, quais as suas diferenças, para que servem, como se conectam ao ESG e qual a sua importância na definição de uma estratégia robusta?
Vamos entender a materialidade como recurso estratégico para empresas. Um pouco desse universo e dicas de por onde começar você encontra a seguir.
Materialidade é um conceito utilizado em diversas áreas, mas em geral se refere à importância ou relevância de determinada informação, fato ou acontecimento em relação ao contexto em que se encontra.
Na perspectiva da sustentabilidade, onde o termo ganhou destaque, materialidade é apontada pela Global Reporting Iniciative – GRI como:
“um conceito-chave no mundo dos relatórios de sustentabilidade e desempenha um papel importante na preparação das divulgações e na verificação por um auditor.”
A instituição complementa que:
“ a materialidade é usada para ‘filtrar’ as informações que são ou devem ser relevantes para os usuários”.
Ou seja, aquelas que podem influenciar a tomada de decisão das partes interessadas a respeito da empresa relatora. (tradução livre de publicação The GRI perspective – The materiality madness: why definitions matter , fevereiro 2022)
Materialidade também é aplicada no universo da contabilidade e das finanças, área que já usa tal prática há mais tempo, e é apontada por alguns como a criadora do termo.
Funciona com as mesmas premissas, ou seja, uma informação é considerada material se trouxer subsídios para a identificação de oportunidades e riscos financeiros ou se a omissão ou a apresentação incorreta da mesma possa influenciar as decisões da empresa.
Portanto, materialidade está relacionada à importância de uma informação ou tema para a tomada de decisão em um determinado contexto, e pode ser aplicada com critérios de sustentabilidade ou de finanças.
Uma forma de realizar a priorização dos temas é por meio da matriz de materialidade, modelo que os sistematiza e organiza.
No início dos anos 2000 era lançado o primeiro protocolo da Global Reporting Initiative (GRI), uma organização internacional independente que ajuda as organizações a serem transparentes e assumirem a responsabilidade por seus impactos, fornecendo linguagem global comum para o relato das organizações.
Portanto, já são mais de 20 anos aprimorando a materialidade, período no qual foram feitas alterações substanciais para atualizar o guia de orientações para aplicação.
O guia atual tem cerca de 700 páginas e traz instruções gerais e indicadores específicos para o desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade.
Nessa versão há a divisão: “Normas Universais”, que contém os requisitos e princípios para uso, informações gerais da organização e orientações sobre a materialidade; “Normas Setoriais” com indicadores específicos para setores; e “Normas Temáticas” que detalham indicadores de desempenho econômico, ambiental e social.
O protocolo é amplamente usado por empresas em todo o mundo para estruturação de relatórios de sustentabilidade.
Ao longo desses anos, a evolução da abordagem da GRI para a materialidade passou por estágios diferentes.
Nos primeiros protocolos não havia obrigatoriedade de uso, ou só era mandatório adotar o princípio da materialidade para os níveis mais completos de relato (como no Nível A – à época do protocolo G3).
Em paralelo existiam os níveis B e C que tinham menos exigência), o que evoluiu, não só para uma um item essencial, mas para ser o centro direcionador do relato (a partir do protocolo G4).
Outro fator importante que evoluiu na materialidade GRI ao longo dos anos foi a ampliação do olhar.
Portanto adotou-se a inclusão de perspectivas internas e externas na escolha, ou entendimento, dos temas relevantes.
Passa a ser sugerida uma matriz de materialidade com dois eixos: de um lado refletindo os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da organização relatora; de outro, o que influencia substancialmente as avaliações e decisões dos stakeholders.
A revisão GRI 2021 é a que traz mudanças mais significativas.
Esse é o protocolo em vigor e estabelece uma visão mais ampla, incluindo a perspectiva dos impactos como ponto de partida para a materialidade.
A nova metodologia propõe 4 passos:
Para ter acesso aos protocolos GRI visite o site e baixe as versões, hoje já com tradução em português para diversos cadernos: https://www.globalreporting.org/
Uma matriz de materialidade é usada como base de desenvolvimento dos relatórios de sustentabilidade. Mas, se ampliarmos o olhar, ela contém uma composição estruturada e visões múltiplas em que as organizações podem extrair orientações para o planejamento ESG ou até mesmo o planejamento estratégico da empresa.
A evolução e a multiplicação dos métodos e princípios para mensuração da sustentabilidade e seus impactos, somados à aproximação do mercado financeiro e à temática ESG vêm trazendo novidades e tendências para evolução dos relatos, índices e padrões de sustentabilidade.
Um dos modos que essa evolução impactou a materialidade foi proporcionando uma multiplicidade de métodos para definição dos temas materiais.
O GRI em sua publicação The GRI perspective – The materiality madness: why definitions matter , de fevereiro 2022, coloca duas direções principais de pensamento sobre a materialidade que, juntas, compõem o conceito de ‘dupla materialidade’, sendo elas:
→ materialidade do impacto – Padrões GRI
→ materialidade financeira – padrões do International Sustainability Standards Board (ISSB) do IFRS
E apresenta a seguinte correlação entre elas:
A Dupla materialidade está sendo utilizada pelos novos Padrões Europeus de Relatórios de Sustentabilidade.
A jornada da sustentabilidade está em constante transformação e aprimoramento, portanto, estar próximo às melhores práticas é estar atento a esses movimentos.
A GRI propõe caminhos e define premissas, mas o formato de desenvolvimento da materialidade, bem como sua aplicação, pode ser adaptável ao momento da sua empresa.
Sustentabilidade é jornada e, para alcançar altos padrões, há sempre uma caminhada a fazer, um degrau a mais a subir.
De maneira simplificada, nós sugerimos 3 passos:
Vamos lá, para iniciar o exercício de definir temas materiais conectados ao ESG, recomendamos que olhe primeiro para dentro .
Busque tudo que possa se correlacionar com a temática ESG , seja por meio da análise dos seus documentos, diretrizes, políticas.
Passe também pela análise da legislação relacionada ao tema, exigências contratuais de clientes e parceiros, questionários que a empresa responde, certificações e prêmios que participa.
Nesse momento, os documentos podem trazer muitas referências.
É possível também fazer um processo de escuta de áreas estratégicas para entender o impacto de questões ambientais, sociais e de governança ou econômicas no negócio, entender riscos, forças e oportunidades de desenvolvimento.
Outro passo importante é ampliar a escuta aos públicos de interesse ou stakeholders .
Quem impacta ou pode ser impactado pela empresa deve estar presente na escolha dos temas materiais.
A consulta pode ocorrer de maneira direta (presencial ou remota) ou indireta:
• De forma indireta : análise do extrato de canais já existentes, como as mídias sociais, clipping, canais que recebem demandas de fornecedores, clientes, público interno, comunidades (nesse caso, pode ser utilizado o material organizado pelo AUDIRE – produto Bridge para acolhimento de manifestações sociais).
• De forma direta: reuniões ou formulários específicos a serem enviados aos públicos de interesse com a finalidade pontual de colher opiniões sobre temas relevantes para a matriz de materialidade.
O formato de execução e a definição das métricas para pontuação de temas e geração de uma matriz de dois eixos, ou mesmo uma lista de temas em ordem de prioridade, pode ser desenvolvido de acordo com o que for mais adequado para a empresa, desde que atenda as premissas GRI.
O resultado final pode ser apresentado de diferentes formas gráficas e pode ser consultado nos relatórios de sustentabilidade que seguem as orientações do GRI.
Ampliando o olhar, uma consulta de materialidade entrega também um diagnóstico, um retrato da realidade da empresa e uma escuta rica do seu território, em que estão sinalizados temas importantes a serem trabalhados.
Nós acreditamos que a materialidade é para todas as empresas que se identificam com a sustentabilidade.
Em geral, a matriz de materialidade é a base para o desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade, uma exigência para as empresas que relatam de acordo com as premissas do GRI.
Entretanto, o processo de materialidade pode ser aplicado como direcionador da estratégia de sustentabilidade da empresa, ou mesmo do planejamento estratégico.
Se sua empresa ainda não faz um relatório de sustentabilidade, mas gostaria de saber por onde começar, aplicar um modelo simplificado da materialidade é um bom ponto de partida para ter clareza das temáticas ESG que estão mais pulsantes.
Inicialmente, iremos construir a matriz de acordo com o que o cliente busca.
Consideração essencial feita, nossa expertise em “ouvir”, em ser ponte, em fazer diálogo social e acolher manifestações agrega no que ofertamos para a construção da materialidade de impacto de nossos clientes.
Nossos mais de 35 projetos e 500 ações, só em 2022, nos permitem ter uma vivência em dialogar com diferentes públicos e adaptar conteúdos e linguagem para levar de forma adequada mensagens aos stakeholder.
Toda essa experiência é usada para pensar formatos e dinâmicas na consulta aos públicos de interesse para construção de uma matriz de materialidade para você.
Se ficou curioso para saber um pouco mais sobre todas as frentes de atuação da Bridge, ou se quiser ter mais detalhes da forma que desenvolvemos a matriz de materialidade, e se ela é pra você, entre em contato conosco.
Esse texto traz uma provação. Não queremos trazer um termo da “moda” somente, Entretanto não é de hoje que a sustentabilidade nas empresas está na pauta.
O conceito é importante sim para o mundo atual, principalmente entre as empresas. Aqui na Bridge, a gente gosta de conectar a ideia de sustentabilidade com o conceito ainda mais amplo de “bem viver” que nos provoca a enxergar o quanto somos natureza e, assim, constatar que tudo está interligado. (Continuar lendo)