Esse foi o projeto de responsabilidade social que aqui vamos chamar de Acupuntura Social. Nossa equipe atuou na intervenção pelo diálogo apoiada na identificação dos pontos de tensão relacional.
Uma comunidade marcada pelo sentimento de perda de relevância histórica, por uma cultura paternalista lapidada por anos e anos de práticas geradoras de dependência e, mais recentemente, pelo êxodo de sua população em busca de novas oportunidades.
Tudo isso permeado por um sentimento de baixa autoestima individual e coletiva, provocando um explícito esgarçamento no tecido social local. A Bridge Gestão Social foi contratada para atuar neste território visando à redução de tensões e conflitos latentes que quebravam as conexões e laços preexistentes entre moradores da região, dificultando qualquer iniciativa de relacionamento empresa-comunidade.
Nossa atuação foi baseada nos preceitos da responsabilidade social, utilizando dos princípios da Comunicação Não-Violenta e da Justiça Restaurativa.
Para lidar com a complexidade da situação, partimos da proposta dos Círculos de Paz como inspiração para nossa intervenção.
Quando a Bridge foi procurada, a demanda era, então, apoiar a empresa na solução de conflitos internos à comunidade que se encontrava segregada, sofrendo os efeitos de uma ruptura familiar. Dois membros de uma mesma família disputavam a liderança da comunidade adotando posturas oscilantes entre hostilidade e abertura perante empresa que atua na região. Isso repercutia nas diversas tentativas de aproximação por parte do empreendedor, ainda que as ações visassem ao desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida da população local e à redução do impacto social e ambiental , com responsabilidade social.
Assim, projetos de boa envergadura como revitalização da fachada das casas, ou a instalação de biodigestores visando solução para aspectos ligados ao esgotamento sanitário, terminavam mal. Tais divergências aguçavam as divisões internas à comunidade e repercutiam negativamente na reputação empresarial, não sendo raras, inclusive, as iniciativas de bloqueio de rodovia que impactavam no desempenho.
Partindo da crença Bridge de que a ponte só será consolidada se as duas margens do rio forem devidamente conhecidas, o primeiro passo foi, então, compreender o contexto sob a perspectiva da comunidade. Para isso, foram feitas rodas de conversa num total de sete encontros com alguns grupos da comunidade, primando pelos princípios da Comunicação Não-Violenta. Explicado o objetivo do trabalho – inicialmente, não foi sinalizada a intenção de conter o conflito, as pessoas eram convidadas a conversar sobre aspectos da vida no lugar. Apoiadas pela metodologia Bridge Janelas Abertas – dedicada ao diagnóstico pela arte – a conversa buscava mapear simbolismos e identidades locais, memórias, valores, potencialidades e fragilidades da vida no lugar.
Pedido de licença: Entre uma e outra roda de conversa, foi feita uma apresentação ampla, para todos da comunidade que quiseram participar, explicando o trabalho e sua proposta. Esta apresentação foi fundamental e simbolizou um “pedido de licença” que autorizasse a consultoria a entrar naquele território para acessar o olhar dos moradores. Em nenhum destes momentos, houve participação da empresa contratante, o que favoreceu a liberdade de expressão dos moradores. Particularmente neste grande encontro de abertura, as rivalidades ficaram expostas. Por meio de dinâmica de grupo, e mesclando membros de partes distintas do conflito, eles foram levados a refletir sobre os contextos adjacentes à disputa ali imperante. Frases fortes vieram à tona, ajudando-nos na caracterização das tensões.
Validação de resultados: Concluídas as rodas de conversa, constatamos a raiz das tensões. Uma extensa pauta com assuntos do convívio empresa-comunidade, alguns se estendendo por mais de uma dezena de anos, que requeriam tratativa esclarecedora, respeitosa, direta e antecipada.
Tal diagnóstico foi apresentado à comunidade em três reuniões com o propósito de buscar a validação em relação aos problemas apurados pela consultoria. Uma reunião também foi feita com a empresa.
Limpeza de pauta: Apoiados na perspectiva da Transformação de Conflitos por meio da Comunicação Não-Violenta, que nos mostra a necessidade da mudança nos padrões de relacionamento para que um conflito seja transformado, instituímos, com a participação do empreendedor, as reuniões de “limpeza de pauta”. O objetivo aqui era co-criar novas práticas no relacionamento empresa-comunidade, para reduzir o impacto social e ambiental decorrente das ações da empresa na comunidade. A conversa era estruturada com base nos Círculos de Paz, abrindo espaço para uma participação horizontal que partia da definição de aspectos de valor para todos – compromissos assumidos com o grupo – desde o princípio do encontro. Apoiados por essa dinâmica, os diversos temas de conflito identificados nas rodas de conversa iniciais foram sendo trabalhados numa espécie de acupuntura social. Em cada reunião, pendências novas surgiam demandando do empreendedor respostas aos problemas trazidos pela comunidade.
Não se pode dizer que este trabalho deu conta da eliminação do conflito. Contudo, no que tange ao relacionamento empresa-comunidade, alguns aspectos importantes foram alcançados como resultado desta intervenção:
– Suspensão dos fechamentos de estrada como forma de protesto por parte da comunidade;
– Posicionamento franco do empreendedor, eliminando boatos que mantinham acesos temas críticos para a comunidade, como especulações acerca de realocação da população;
– Implantação de mecanismo de seleção de projetos sociais a serem apoiados pela empresa em benefício da comunidade, sendo esta seleção realizada de modo democrático, com participação aberta da comunidade;
– Implantação de mecanismo de queixas e reclamações que passou a oferecer maior celeridade na tratativa das questões apresentadas pela comunidade e melhor gestão dos riscos sociais do negócio;
– Capacitação para o diálogo social baseado nas premissas da Comunicação Não-violenta para um grupo de, aproximadamente, 30 profissionais – diretos e contratados, de diferentes estratos da organização;
– Mudança de postura dos profissionais da empresa que, na sua grande maioria, passaram a avaliar preventivamente as consequências de suas ações no que tange ao relacionamento com esta comunidade;
– Maior entendimento e valorização interna do trabalho de relacionamento com comunidades, melhorando os alinhamentos anteriores às atividades de interface com esse público.
Fizemos um trabalho de Diagnóstico com uma Rede de Empreendedores para desenvolvimento local. Confira clicando no botão abaixo!